Técnicas de implantes e outros avanços tornam Brasil referência mundial na área .
O Brasil, historicamente, tem dificuldades para combater os problemas odontológicos de sua população. O Levantamento Epidemiológico das Condições de Saúde Bucal da População Brasileira deste ano, realizado pelo governo federal com 108 mil pessoas, demonstrou que mais da metade dos idosos não tem nenhum dente e menos de 12% da população brasileira foi atendida em uma consulta odontológica em 2007. A pesquisa revela ainda que o acesso a tratamentos é restrito, pois 30% da população nunca foi ao dentista. Quanto maior a carência e menor a escolaridade, maior o número de doenças que culminam com a perda dentária. A falha na higiene dos dentes ocasiona problemas que vão desde cáries, passando por gengivite e até câncer de boca.
Para Newton Miranda de Carvalho, secretário-geral da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), houve uma mudança de conceito no Brasil. "Antigamente, o enfoque era a cura das doenças. Com o tempo, percebemos ser mais benéfico atuar na prevenção. Daí surgiu, por exemplo, a idéia de fluoretar a água, além das campanhas antitabaco. Os dentistas passaram a ter uma visão mais holística do indivíduo", explica. A mudança de comportamento por parte da população também representa um avanço. Antes, por questões financeiras e culturais, muitas pessoas extraíam os dentes para não gastar com tratamentos, motivo pelo qual há um grande número de desdentados, estimulando o desenvolvimento da técnica de implantes dentários, a implantodontia.
Hoje, o Brasil é um dos países onde a odontologia apresenta maiores avanços, com destaque para a implantodontia, uma das áreas mais desenvolvidas. A técnica mais atual permite o implante guiado por computador. Nela, softwares interpretam e convertem informações fornecidas por uma tomografia computadorizada em uma imagem tridimensional. O profissional consegue visualizar toda a estrutura óssea da maxila ou da mandíbula e definir os pontos estratégicos para a fixação dos implantes. Em seguida, é feito um molde com pequenos furos que servem como guias para determinar o local, a altura e o ângulo correto das peças de titânio a serem inseridas. A evolução foi grande. Em 1991, ainda se discutia a possibilidade de reimplantar um dente perdido ou reparar um quebrado com o próprio fragmento que se desprendeu.
Um dos primeiros implantes foi concebido pelo implantodontista Jacques Scialom, em 1969, sobre o sistema de implante com um tripé de agulhas de tântalo, batizado de endo-ósseo agulheada. O primeiro reimplante dentário no estado foi realizado ainda naquele ano. Em 1991, surgiu a possibilidade de implantes com parafusos de titânio, que durariam por toda a vida, desde que houvesse higienização correta. Naquele ano, foi realizado o primeiro implante dental total em Minas.
Seis anos depois do primeiro implante, o domínio da técnica estava se difundindo e a prática já era bem mais comum, sendo, inclusive, ensinada em cursos de odontologia. Os prazos para o implante foram sendo reduzidos. A princípio de seis meses, entre a colocação dos pinos de titânio e fixação dos dentes, as novas técnicas passaram a permitir carga imediata, ou seja, colocar implantes e dentes no mesmo dia. O uso de células-tronco no processo acelera o crescimento do tecido ósseo. Já a cirurgia guiada por computador evita o retalho da gengiva. "Destaco ainda o trabalho de enxerto ósseo em bloco e sem risco de rejeição pelo organismo em que o Brasil é pioneiro e a técnica brasileira de transposição traumática de nervos, que evita a parestesia", afirma Newton de Carvalho.
DESTAQUE Ainda segundo o especialista, a odontologia no Brasil é a melhor do planeta. "Esse reconhecimento pode ser comprovado pela vinda de profissionais de vários países para aprender aqui. Começa pela graduação, em que os estudantes tratam de pacientes. No exterior, usam manequins. Outro fator que nos levou à excelência foi o fato de que 11% dos dentistas do mundo estão no Brasil. Isso faz com que haja uma troca de experiências muito grande, já que várias pessoas estão aplicando as mesmas técnicas e, assim, surgem o aprimoramento e as novas idéias", esclarece.
A divisão da área em 19 especialidades é outro fator que contribui para melhor focar os profissionais, medida rara fora do Brasil. "Tivemos um avanço muito grande, principalmente nos últimos 10 anos. Nós nos tornamos referência, mas essa mudança começou há 50 anos, com o advento de novas escolas de odontologia. Os profissionais formados partiam para o interior, se organizavam e difundiam o conhecimento. Antes disso, era muito comum o dentista-prático, aquela pessoa que tentava resolver algum problema mais básico em locais onde não havia profissionais, assim como as parteiras. Hoje, somos a maior força na Federação Dental Internacional, com 13 delegados. E, a partir de 2009, o presidente será brasileiro", comemora Newton.
Fonte:www.saudeplena.com.br